Como chegou a Portugal?
Vim para Portugal para crescer na cirurgia craniana com o apoio do Professor Dr. Lobo Antunes, que me acolheu e com quem tive um relacionamento fantástico. Adorei esta pessoa! Ele estava numa fase de vida muito interessante, já com muita experiência, continuando ainda a dedicar-se ao seu trabalho.
Como é a sua relação com o paciente?
Sou muito aberto na forma como me relaciono com as pessoas porque acho que é a chave da comunicação e é fundamental na minha especialidade.
E nas suas consultas?
Depende da forma como o paciente vem, todos são diferentes e gosto disso. Há pacientes que, embora cheguem aflitos, vêm com humor. Pergunto-lhes o que querem de mim e muitas vezes respondem-me “quero um milagre”. Eu não sou curandeiro, mas para muitos eu sou a última hipótese. Em contrapartida, há pacientes que não conseguem brincar com a situação. A dor afeta o seu estado psicológico, alguns mudam a sua rotina diária, outros a perceção sobre a vida… são pessoas com família e precisam de estar em harmonia com a sua realidade.
Acredito que a empatia consiste na forma como reagimos à pessoa que temos à nossa frente, porque é ela que nos transmite as suas necessidades. Se o paciente já tem uma tendência para brincar quando tentamos encontrar uma solução, tudo bem, caso contrário podemos concentrar-nos no assunto de forma séria e quando menos esperamos o paciente liberta a tensão e sente-se mais à vontade.
Os pacientes chegam tensos por diversas razões: dores, falta de esclarecimento, excesso de informação na internet ou até porque já tiveram uma, duas, três ou até quatro opiniões, mas sem resultados. Quando um paciente pede uma quarta opinião é porque está mesmo perdido, mas mesmo assim ele precisa de uma resposta. E ele fica a pensar de quantas mais opiniões vai precisar até ter uma solução.
É mais fácil explicar a situação a um paciente que já teve muitas opiniões. Mas antes do paciente se entregar, ele precisa de criar confiança e isso não é transmitido através dos meus feitos ou se estudei mais do que outros. A confiança é criada no momento em que o paciente é ouvido e compreendido. É preciso ter a noção que a sua ciática não é igual à ciática de outro paciente. Tem uma história própria e eu compreendo-o.
É igual a uma intervenção cirúrgica?
Durante a operação a relação é completamente diferente, estou concentrado numa patologia. É um trabalho de precisão, não há um relacionamento com a outra pessoa. Na consulta há a possibilidade de desenvolver o lado emocional. Gosto muito disso porque vemos que o paciente chega muito fechado e durante a consulta dá tanto que sentimos que começa a surgir confiança, porque precisa de ajuda. Isso desenvolve dinâmicas de expressão que torna momentos sérios em momentos hilariantes. Após quebrar as primeiras barreiras, entramos no assunto principal onde começo a procurar uma solução para o meu paciente.
Acerca do tratamento cirúrgico, é preciso esclarecer o paciente o máximo possível sobre os riscos, os benefícios e todos os cenários possíveis. Depois da cirurgia, faço o acompanhamento até ao fim da recuperação. Fazemos consultas regulares durante 6 meses a 1 ano, até ambos concordarmos que o caso está resolvido. E se mais tarde for gentil, simpático e fiel para voltar e dizer-me: “algo não está bem”, é um favor que vai fazer a si próprio.
O acompanhamento é fundamental, tão importante quanto a cirurgia. Não serve de nada fazer um óptimo ato cirúrgico se não há tempo ou interesse para acompanhar o paciente depois. Ao acompanhá-lo encaramos as responsabilidades e interessamo-nos nos resultados da cirurgia, estes nem sempre são proporcionais ao ato cirúrgico. Certifico-me que o paciente esteja bem e que tenha os cuidados essenciais para voltar gradualmente a ter a qualidade de vida que perdeu.
Seja qual for o ato cirúrgico há sempre uma porta de entrada, seja por endoscopia, seja por cirurgia a céu aberto, vai ter cicatrizes, feridas para sarar e uma rotina para melhorar gradualmente. Eu sugiro e dou informações para a recuperação, mas há pacientes que não se importam com isso, assim que se sentem bem voltam imediatamente à atividade. Outros pacientes têm respeito pelo meu trabalho e têm cuidados. Alguns voltam passado dois meses e dizem: “Doutor fiz uma asneira, cai”, sabem que é um trabalho de equipa e não se limita ao cirurgião.
Esteve no público vários anos, porque a mudança para o privado?
Troquei o público por uma melhor qualidade de vida para mim e para os meus pacientes. Tenho mais tempo para eles, não é como no hospital público que só tinha três minutos para cada. Se não quiser dizer nada, não digo, porque às vezes não é preciso e a mesma coisa para o paciente.
Às vezes vou à porta do consultório chamar um paciente e ainda antes de ele entrar reparo como caminha e que dificuldades motoras aparenta. Prefiro um paciente que tenha um problema evidente do que um que venha pedir esclarecimentos (seguros, acidentes de trabalho, relatórios ou outra coisa). Sou muito pragmático e prático. Gosto de operar, falar e trabalhar em coisas concretas.
Quando um paciente chega a coxear, sei que vai precisar de mim, e pode vir a necessitar da minha cirurgia, caso os exames o confirmem. Caso contrário, envio imediatamente para a fisioterapia ou outro tratamento conservador. Com o tempo acabo por perceber onde a minha intervenção pode ser mais eficaz e se é necessária ou não.
O seu futuro?
Durante um período importante da minha vida procurei cirurgias diferenciadas, como cranianas, entre outras. Era um ritmo de vida muito desgastante. Agora com 43 anos ambiciono mais sabedoria e mais qualidade de vida, foco-me na patologia da coluna vertebral. Ao mesmo tempo, tento perceber o quanto esta patologia afeta a vida das pessoas, como e quando o tratamento cirúrgico pode ajudar, assim como o seu tempo de recuperação.
É por isso que a patologia da coluna é tão interessante. Não é tão diferenciada como a cirurgia cerebral, mas implica mais dedicação, paciência e empatia, sendo aquela que é do meu interesse atual.