Se é qualidade de vida o que procuramos com uma cirurgia à coluna vertebral, temos que aceitar que esse é apenas um ato extemporâneo no nosso percurso de saúde; é justamente uma “reparação” num conjunto estrutural que é a nossa coluna vertebral.
É Melhor Prevenir do que Remediar
Não vai ser a cirurgia que nos vai descontar as décadas que passamos mantendo posições erradas (trabalho sedentário), fazendo esforços que sabemos exagerados (filhos, mudança ou profissões pesadas), alimentando-nos de forma desarrumada ou simplesmente não cuidando de nós próprios. Nesse tempo todo, os músculos contraem e as posturas alteram-se até que, às vezes, são os nossos mecanismos de defesa que se viram contra nós, pois o corpo alerta mas a mente precisa estar desperta e receptiva ou o corpo vai acumulando e somatizando.
Não é um acaso a maioria dos pacientes com problemas de coluna serem pessoas que, depois dos 40 anos, começam a sentir as mazelas de 20 anos de trabalho, filhos, stress, má alimentação e descido de si próprio. Praticamente todos passamos por isso, por quanto as estórias pessoais possam diferir nos detalhes. Muitos até foram desportistas dedicados nos primeiros 20 anos da própria vida e deixaram de cuidar de si, para cuidar de outros, na segunda vintena. O paciente, inevitavelmente, há-de chegar ao fim da fila de espera e quase nunca gosta do que lhe é dito, pois é aí que se apercebe que já passou tempo a mais desde que deixou de se focar em si.
A Importância do Equilíbrio Interior
Focar-se em si é a chave para conseguir melhorar a qualidade da própria vida e só assim, logo a seguir, ser capaz de voltar a ter energia para ajudar quem vive à sua volta. As respostas estão dentro de nós: o médico só ajuda a calibrar a atenção sobre o que conta. Por essa razão o corpo não pode prescindir da mente, porque o bem estar interior está intimamente relacionado com o bem estar físico. Não é por acaso que estamos cada vez mais atentos às culturas que durante milénios promovem a conexão com a paz interior e a busca do bem estar dentro de nós próprios, como o Yoga e Ayurveda.
“Em si mesmo está o mundo inteiro e se você souber olhar e aprender, a porta está aí e a chave na sua mão. Ninguém na terra pode dar-lhe a chave ou a porta para abrir, exceto você mesmo”, Jiddu Krishnamurti
Com o passar do tempo, reparei que isso é cada vez mais evidente, o sumo dos meus encontros com os pacientes no consultório, o que vejo que realmente interessa para melhorar a vida do paciente. O trabalho pode começar pelo ato cirúrgico mas tem que continuar com o paciente a se reapropriar do controle sobre a própria vida. Se o que a pessoa quer é um tampão para mascarar a dor e preservar os próprio hábitos, os medicamentos são a solução perfeita, com a contrapartida de não resolver o problema em si além de ter os óbvios efeitos colaterais que qualquer substância tem quando é consumida em excesso.
Como Manter os Benefícios da Cirurgia
A coluna tem impulsos muito positivos nas primeiras duas décadas da vida e negativos nos seguintes 20 anos que vai aguentando. Isso causa o tal desgaste, a tal patologia degenerativa vertebral. Essa pode dar sinal de si em várias formas: hérnias, canais apertados, nervos comprimidos ou estrangulados, fraturas ou instabilidades.
O que tento passar ao paciente que decide avançar para o tratamento cirúrgico, para além do consentimento informado sobre os riscos e os benefícios da cirurgia, é que o cirurgião é quem lhe vai “reparar” a “avaria”, mas os efeitos benéficos da cirurgia vão permanecer no tempo apenas e só se o paciente fizer a sua parte.
