Estão a operar pacientes não urgentes no público e no privado?
Embora já não trabalhe no SNS, posso confirmar que a actividade cirúrgica programada tem-se mantido em algumas instituições Covid-free.
O que são “instituições Covid-free”?
Trata-se de Clínicas ou Hospitais que durante o decorrer da pandemia se têm focado nos cuidados dos pacientes com doenças diferentes do Covid, tentando manter-se completamente isentos de infecção, por isso “Covid-free”.
Quer dizer que são hospitais sem Covid mesmo em plena pandemia?
Sim, são hospitais em que não se recebem utentes positivos por Covid, o que os torna locais onde o risco de infecção relacionada com os procedimentos cirúrgicos é até inferior ao período antes da pandemia, por haver agora medidas ainda mais radicais contra as infecções.
Quais são as medidas que permitiram a estes hospitais manterem-se isentos de Covid?
Quanto aos hospitais em que trabalho, sei que se mantiveram Covid-free graças a um conjunto de medidas indicadas pela DGS que foram aplicadas desde logo: triagem na recepção de utentes (incluindo teste COVID pré-operatório), plano de vacinação completo de todos os profissionais de saúde; escrupulosa utilização de equipamentos de protecção individual; Blocos Operatórios com sistema de filtragem do ar (AVAC) com renovação do ar e esterilização após cada cirurgia que garante erradicação de 99,9% de todas as bactérias e dos vírus, incluindo a estirpe toda do Coronavírus; circuito próprio covid-free tanto no ambiente do bloco operatório como no internamento.
Quanto aos espaços de consulta e de circulação, as medidas de controlo definidas pela DGS são aplicadas religiosamente, permitindo assim que esses hospitais se mantenham livres de casos de infecção por Covid também nos espaços comuns.
O Dr. Martin tem mantido a sua actividade de cirurgia à coluna vertebral ao longo deste ano de pandemia?
Sim, esse conjunto de medidas tem permitido, a mim e a colegas de outras especialidades, operar este ano todo em total segurança, impedindo qualquer tipo de contágio de doente para doente. Pessoalmente, continuo a operar regularmente no Hospital da Ordem Terceira, em Lisboa e no Hospital S. João Baptista da Santa Casa da Misericórdia do Entroncamento, mantendo também inalterada a minha actividade de consulta na Clínica Cintramédica, em Sintra e na Clínica Europa da JCS, na Parede. As quatro, são instituições completamente Covid-free.
E só atendem pacientes privados?
Operamos pacientes particulares, com seguros ou subsistemas, como também pacientes das listas de espera cirúrgicas do SNS através de parcerias como o SIGIC (Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia) que autorizam as instituições privadas a operar os pacientes das listas de espera dos hospitais públicos.
Quais são os exames necessários para se ser operado em tempo de pandemia?
Para além dos exames que habitualmente pedimos em previsão de uma cirurgia (análises, ECG, RX Tórax…), agora, em tempos de pandemia, é implementado um rastreio pré-operatório com teste da PCR que garanta que o paciente seja Covid-negativo antes de se deslocar para a sua cirurgia no hospital.
Os pacientes continuam a ir à consulta ou há mais vídeo consultas?
Há uma clara redução no número de pacientes, muitas vezes relacionada com medos irracionais, pois os hospitais Covid-free nunca foram tão seguros em termos infecciológicos. No meu caso, tenho disponibilizado aos pacientes o serviço de teleconsultas, basta para isso contactar-me através da página de contacto do meu site ou, por conveniência, na minha página no facebook. É um processo muito simples e eficaz. Tenho recebido depoimentos muito curiosos sobre esta possibilidade. A conveniência e rapidez do procedimento torna tudo tão mais agradável e rápido.
O que deveriam fazer então os pacientes em alturas de confinamento e de picos de pandemia?
Deveriam ligar para o hospital que escolheram, confirmar que o serviço de que precisam está a funcionar normalmente e marcar a consulta como é habitual, pois é o hospital em questão a garantir que não há risco de infecção. Em jeito de conclusão: Esta é a altura em que o sistema de saúde privado pode dar uma contribuição crucial ao serviço público, tratando aqueles pacientes “não Covid” que ficaram inevitavelmente para trás nos hospitais públicos onde a prioridade continua ser o controlo da pandemia.